Contabilidade Gerencial – A Contabilidade Estratégica

Nomenclatura copiada de atividades militares é cada vez mais frequente nos textos de administração. "Estratégia", "logística" e "planejamento", além de outras tantas oriundas da área militar, são palavras utilizadas de forma crescente por administradores e empresários.
Embora admitindo que ocorrem alguns problemas de interpretação com essa prática, colocamo-nos entre os que defendem a "importação" de termos nascidos em outras especialidades, desde que apresentem uma afinidade clara com os conceitos administrativos aos quais serão aplicados.

É o caso, por exemplo, do substantivo "estratégia" e do adjetivo "estratégico", daquele derivado.

Segundo os dicionários, o termo "estratégia" significa o "planejamento de ações para a obtenção de um resultado".

Ocorre que esse tipo de planejamento corresponde, com exatidão, ao que se faz em todas as empresas: planejar, para não ter de improvisar.

Afinal, planejamento é a recomendação fundamental da administração proativa para a superação das incertezas de uma administração essencialmente reativa.

Se assim é, e se esse planejamento visa a definir ações para a obtenção de resultados específicos, não há porque não chamá-lo de estratégico, adotando-se uma terminologia que defina com propriedade aquilo que se pretende significar no âmbito gerencial.

Por essa razão, expressões como "planejamento estratégico" e "gestão estratégica" contam com aceitação generalizada.

Porém, atualmente, uma nova expressão vem incorporar-se à nomenclatura estratégica já consagrada: a Contabilidade Estratégica.

Em essência, a perspectiva estratégica difere da visão do sistema contábil convencional das empresas apenas no que concerne à sua abrangência, principalmente porque este rompe com o enfoque estritamente interno do sistema convencional, surgindo o interesse por técnicas e conceitos que envolvem dados externos, como, por exemplo, a análise das cadeias de valor.

Por isso, os procedimentos contábeis não deverão passar por modificações fundamentais, mas passarão por um processo de adaptação para sugerir que uma nova etapa na história da Contabilidade está em curso: à moda de uma genealogia bíblica, poderíamos dizer que a Contabilidade Financeira gerou a de Custos, que gerou a Gerencial, que, agora, gera a Contabilidade Estratégica.

Essa adaptação será necessária para que, inicialmente, a Contabilidade convencional possa cumprir, a contento, o seu papel de destaque no suporte das fases do planejamento estratégico.
Assim, os dados contábeis servirão, na 1ª fase, para subsidiar as decisões referentes às alternativas estratégicas consideradas.

Na 2ª, a elaboração de relatórios contábeis objetivos e condizentes com o nível de compreensão dos destinatários será de importância primordial para a difusão do planejamento da empresa, por todos os níveis da organização.

Na 3ª, os dados contábeis servirão de apoio à avaliação da viabilidade financeira das táticas alternativas a serem consideradas.

E na 4ª e última fase, o levantamento e a análise de dados contábeis atuais constituirão a base mais relevante dos estudos comparativos de acompanhamento e controle.

As diferenças existentes entre o ponto de vista estratégico e o ponto de vista convencional também requerem adaptações da Contabilidade convencional, configurando características relevantes da Contabilidade Estratégica.

As principais são:

a) enfoque predominante – do ponto de vista convencional, o enfoque é fortemente interno, sendo predominantemente externo na visão estratégica;

b) objetos de custeio – produtos e clientes são os objetos de custeio principais para a perspectiva convencional, enquanto os diversos estágios da cadeia de valor na qual a empresa se insere representam os principais objetos de custeio da visão estratégica;

c) finalidades das análises de custos – nas análises convencionais, os principais objetivos das análises de custos são, entre outras, as reduções de custos e a solução de problemas; as análises estratégicas objetivam as mesmas finalidades visadas pelo enfoque convencional, influenciadas, entretanto, por condições estratégicas como o posicionamento da empresa no que diz respeito à escolha de uma liderança competitiva de custos ou de uma liderança competitiva baseada na diferenciação de produtos;

d) comportamento dos custos – a visão convencional entende que os custos são, basicamente, função dos volumes de produção; para a visão estratégica, os custos decorrem de decisões estratégicas e a compreensão do seu comportamento não pode prescindir da identificação de direcionadores de custos de estrutura e de execução.